TRANSPLANTE HEPÁTICO -
uma experiência vivida de muito perto |
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No final do ano de 2002, a Edite apresentava valores de ferro um pouco mais altos do que o normal. No final de Janeiro de 2003, surgiram os primeiros sintomas de que qualquer coisa não estava bem: a Edite sentia enjoos. A primeira coisa de que a Edite se lembrou foi a de que poderia estar grávida. Mas tal não era de todo possível. Associamos este estado à alimentação, uma vez que tínhamos ido a um restaurante indiano. Eu próprio andava um pouco enjoado. Por essa altura, a Edite recebeu umas análises que tinha feito por rotina. Depois de as mostrar ao nosso médico de família, este decidiu mandar repeti-las. No início de Fevereiro de 2003, as novas análises não deixavam dúvidas: a Edite apresentava indicadores de Hepatite A. Apresentava já uma cor de pele bastante amarela. A ecografia ao fígado não indicava qualquer problema exterior visível. A partir do dia 11 de Fevereiro de 2003, a Edite ficou em casa em repouso com uma alimentação à base de dieta. Até ao fim do mês, as análises efectuadas indicavam que os valores relacionados com a hepatite estavam a regredir, tendo vindo para menos de metade. Contudo os valores associados à icterícia (cor amarela) mantinham-se elevados. Durante a madrugada de Sábado, 1 de Março de 2003, a Edite desmaiou. De manhã, por indicação do médico deu entrada na urgência do Hospital Pedro Hispano. Durante todo esse dia foi submetida a vários exames. As análises efectuadas confirmavam os indicadores de hepatite A, mas indiciavam mais qualquer coisa. Nova ecografia continuava a não apresentar qualquer problema com o fígado. A Edite foi transferida ao fim da tarde para o Hospital Santo António, onde ficou internada. Este hospital é o mais bem apetrechado em doenças hepáticas e o único na região do Porto onde se realizam transplantes. No Domingo, 2 de Março de 2003, fui visitá-la e vim bastante animado pois estava muito bem disposta. No entanto, ao conversar, esquecia-se, por vezes, do que ia dizer. Atribuí esse comportamento ao cansaço, uma vez que toda a noite tinha sido acordada para realização de testes e análises. Na madrugada de Segunda-feira, 3 de Março de 2003, por volta das 3:00, recebi um telefonema do hospital informando‑me que a Edite tinha dado entrada na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes (UCIP), devido a perda de consciência e por não ter reconhecido os médicos que a estavam a acompanhar desde o início. Nesse momento, começou a corrida contra o tempo, à procura dum fígado compatível para o transplante. Como é habitual nos casos desta gravidade, foi feito um pedido urgente internacional. Nesse mesmo dia, surgiu um fígado mas não estava em muito boas condições. Entre o risco de um transplante com fortes probabilidades de insucesso e a continuação de uma espera angustiante, os médicos acharam que o estado da Edite, embora grave, lhe permitia esperar mais algumas horas na esperança de que um fígado em boas condições aparecesse. O estado agravou-se na manhã da Terça-feira, 4 de Março de 2003, pelo que era muito urgente o transplante. Por volta das 21h30, tive a enorme alegria da notícia de que tinha aparecido um fígado compatível e cujos exames de despistagem indicavam ser de boa qualidade. A Edite deu entrada no bloco operatório por volta da meia noite e o transplante durou toda a madrugada de Quarta-feira, 5 de Março de 2003. Foi mais 2 vezes ao bloco operatório por causa de uma hemorragia que se confirmou não ser devida a problemas de coagulação. A Edite recuperou a consciência na Sexta-feira, 7 de Março de 2003. Esteve inconsciente desde a madrugada de Segunda-feira, 3 de Março. Na Segunda-feira, 10 de Março de 2003 de tarde, saiu dos Cuidados Intensivos para a Unidade de Cirurgia 2B. Na Terça-feira, 11 de Março de 2003, já se conseguiu sentar numa poltrona, embora com alguma dificuldade devido à operação e à quantidade de drenos que tinha. Na Quinta-feira, 13 de Março de 2003, já foi possível ver a cicatriz. É um Y invertido e ocupa toda a região abdominal. Parece o símbolo da Mercedes-Benz sem o círculo exterior. Mas ficou muito perfeita. Os cirurgiões fizeram um trabalho muito bom. A pouco e pouco a Edite foi recebendo mais algumas visitas. Nesta fase, não eram aconselháveis em grande número porque o seu organismo estava mais sujeito a infecções, devido ao facto de estar a tomar imunomoduladores em doses elevadas. Esses medicamentos diminuem as defesas naturais do organismo mas são fundamentais para prevenir a rejeição do órgão transplantado. Por isso, os visitantes têm de lavar muito bem as mãos, vestir uma bata e colocar uma máscara que cobre o nariz e a boca. A Edite teve alta no dia 27 de Março de 2003. Começou então a recuperação que tem corrido da melhor maneira apesar de alguns pequenos contratempos na fase inicial que implicaram alguns internamentos. A Edite recuperou a alegria que a caracterizava! Tem a cara ainda um pouco redonda (de Lua cheia, como ela costuma dizer) devido aos medicamentos mas está quase igual ao que era. Apesar de ainda ter de respeitar alguns cuidados, faz uma vida praticamente normal. |
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