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A Nova Economia em Portugal
agitou-se recentemente com os anúncios da aquisição da totalidade da Lusomundo
pela Portugal Telecom e da joint-venture entre a Sonae e a Impresa para o
projecto Portais Verticais.com.
Esta agitação frenética envolvendo
grupos económicos ligados aos media está relacionada com a constatação de que
existe uma enorme falta de conteúdos para serem disponibilizados online, seja
através da Internet, televisão por cabo ou telemóveis, sobretudo orientada para
os jovens que são os potenciais dinamizadores do negócio electrónico enquanto
consumidores.
Não será isto da falta de conteúdos
uma falsa questão ?
É que apesar das movimentações
incessantes em fusões, aquisições e parcerias, há um facto que parece evidente:
os conteúdos, esses, são sempre os mesmos a fazê-los!
Não se incrementa o aparecimento de
novas empresas nessa área, que tragam lufadas de ar fresco. Na minha opinião,
isto poderia, e deveria, ser da responsabilidade dos grandes grupos que estão
sedentos de realizações neste domínio, e não tanto do poder público ou das
associações empresariais, onde por vezes a burocracia coloca entraves ao
desenrolar dos acontecimentos.
E não se pense que seria necessário
um processo muito moroso. Estou convencido que existem aí, algures, muito boas
ideias e projectos, suficientemente amadurecidos que esperam apenas uma
oportunidade para obterem um lugar ao sol da Nova Economia. Às vezes, muitas
vezes, a ideia é boa, tem condições para singrar mas falta apenas algum apoio
ao promotor, não apenas financeiro mas também de gestão, que permita que uma
ideia se torne num projecto de sucesso.
Para acelerar o processo, gostaria de propor a realização de
um Concurso Nacional de Ideias para Conteúdos em larga escala patrocinado, por
exemplo, por um grande grupo económico com interesses na economia digital, uma
empresa de telecomunicações e uma empresa de software, representativos de áreas
que teriam tudo a ganhar com a aparecimento de novas empresas com dinamismo e
ideias. As ideias e projectos vencedores teriam assegurados acordos de parceria
ou capital de risco, bem como apoio na realização ou consolidação do plano de
negócios, criação de empresa, para além de apoio administrativo no arranque do
negócio e acesso a parceiros estratégicos.
Numa perspectiva a médio prazo,
poderiam surgir incubadoras de empresas voltadas exclusivamente para a produção
de conteúdos em áreas específicas identificadas como as mais carenciadas. Mas é
imperativo que essas estruturas de apoio à criação de novas empresas tenham um
papel mais interventivo e menos expectante, sem ficar à espera que lhes cheguem
os interessados mas que partam à sua procura.
A este respeito, tem sido feito
algum trabalho pela ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários (www.anje.pt) e os seus Road Shows pelas escolas, apesar de não abordarem especificamente a produção de
conteúdos. Nestes encontros, os jovens são sensibilizados quanto às vantagens
de ser empreendedor e são informados sobre a ANJE e as facilidades colocadas ao
seu dispor que os podem auxiliar na hora de se lançarem no mundo empresarial.
Falta, em minha opinião, prospecção das ideias que podem estar latentes na
mente dos estudantes, e que se podem tornar em projectos empresariais.
Por outro lado, acho que os jovens
deveriam ser incentivados pelas instituições de ensino e pelas próprias
empresas, desde mais cedo, a apresentar as suas próprias ideias no seio das
escolas e das universidades e incutir neles o bichinho do empreendedorismo. As
cadeiras de projecto, e não apenas nos cursos de índole tecnológica, deveriam
ser realizadas em estreita colaboração com as empresas, e por que não
patrocinadas por estas, suprindo nalguns casos a falta de meios. Os jovens
tomariam, desde logo, contacto com o meio empresarial, retirando daí os devidos
dividendos e ficando deste modo melhor preparados para responder às
solicitações do mercado.
É o que tem acontecido, de alguns
anos a esta parte, no ISTEC-Porto, Instituto Superior de Tecnologias Avançadas (www.istec.pt),
nos Cursos de Informática e Engenharia Multimédia. Os projectos realizados no
âmbito de cadeiras de 3º e 5º ano, propostos pelos docentes ou apresentados
pelos próprios alunos, são sugeridos por empresas, contactadas pelo Instituto
ou que a ela se dirigem, e correspondem a solicitações reais do mercado. Em
grande parte dos casos, os projectos são realizados nas próprias empresas, em
regime de estágio. Representantes das empresa são chamados a participar no
processo de avaliação.
E não se pense que as empresas
estariam a deitar dinheiro ao lixo ou a actuar simplesmente em acções de
mecenato. É que a probabilidade de encontrar bons empreendedores e projectos
rentáveis é grande o que compensaria, a curto prazo, o investimento realizado
para além de ir suprindo a tão apregoada carência de conteúdos e de
profissionais especializados.
Por isso, estou tentado a apelar
aos empresários de sucesso, aos "Senhores Engenheiros" deste país,
que olhem para a nova economia numa perspectiva mais de alfaiate do que de loja
de pronto-a-vestir. O resultado poderá não ser imediato mas a médio prazo todos
seremos beneficiados, o país será beneficiado. Os objectivos serão, de igual
modo, alcançados com a vantagem de construirmos um tecido empresarial mais
forte, sustentado e dinâmico.
Director Geral da Globalmedia |
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